quarta-feira, 30 de junho de 2010

O IPÊ e a Economia do Século XXI (por Cláudio Pádua)


Nesse começo de século fica cada vez mais clara a necessidade de nos engajarmos numa nova economia que garanta a nossa sobrevivência no planeta Terra. Ela deve ser “descarbonizada”, sustentável e com a biodiversidade no centro do fluxo econômico. Deve, também, ser base para cidades sustentáveis, harmônica com o meio rural, com a criação de paisagens e o desenvolvimento de políticas públicas que permitam a convivência entre o agronegócio, a sustentabilidade familiar e a coexistência pacífica com o restante da biodiversidade de cada região. Foi por esse motivo que nossa instituição desenvolveu o Modelo IPÊ de Conservação, e o tem aplicado em cinco regiões do Brasil.


A implantação dessa nova economia demanda não só revermos os negócios atuais, como um empenho na busca de novos empreendimentos com criatividade e ousadia para o novo. Isso requerer também um tipo de profissional formado em uma escola que precisa ser interdisciplinar e voltada para a sustentabilidade. Nós, do IPÊ, vemos essa nova era como uma oportunidade sem precedentes na história, pois abre portas para parcerias entre as ONGs, ou o terceiro setor, e o mundo corporativo, no qual todos podem e devem ganhar. Para tal, estamos trabalhando de maneira estratégica em muitas frentes e planejando outras tantas.

No campo da educação, criamos duas escolas. A primeira, o Centro Brasileiro de Biologia da Conservação (CBBC), oferece cursos de curta duração, buscando práxis socioambiental em encontros que duram um final de semana a cinco semanas. A segunda é nossa Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade (ESCAS), onde oferecemos um programa de pós-graduação com Mestrado, possível por conta de uma parceria com o Instituto Arapyaú e a Natura. Nosso objetivo é criar uma Universidade do Século XXI.


“Estamos trabalhando na criação dos novos paradigmas em uma série de produtos que podem abrir as portas para um ”eco-capitalismo”

Como o que ocorre com a equipe do IPÊ, na ESCAS os alunos aprendem não somente a refletir de maneira sistêmica sobre diversos desafios, mas também como transformar suas ideias em ação. Nossa visão é propiciar um ambiente onde estudantes possam integrar teoria à prática, aprendendo a construir e gerir organizações, negócios e projetos. O estímulo é para pensarem interdisciplinarmente, com criatividade, paixão e ousadia para enfrentar os desafios que encontrarem. Tudo isso, é claro, tendo como base a sustentabilidade em seu mais amplo sentido.

No campo dos negócios inovadores, estamos trabalhando na criação dos novos paradigmas em uma série de produtos que podem abrir as portas para um ”eco-capitalismo”. De modo a responder a tais demandas, criamos uma Unidade de Negócios Sustentáveis que desenvolve projetos com comunidades, visando melhorar a vida das pessoas com alternativas que favorecem a natureza. Temos buscado, através da organização e do fortalecimento de grupos comunitários, a criação, melhoria e comercialização de produtos criativos e sustentáveis. Com empresas, promovemos trocas de conhecimentos, expertises e recursos, desenvolvendo projetos que se tornaram modelo de marketing relacionado a causa (Havaianas, Locomotiva e Faber Castell) ou alguns co-construídos com os diferentes atores (Vivo e Grupo Bimbo). Com nossos parceiros empresariais temos desenvolvido pesquisas que envolvem a resolução de problemas verdadeiros por alunos e professores da ESCAS, o que beneficia a todos.

De modo a responder a demandas que surgiram com nosso contato com o mundo corporativo, criamos uma empresa, a Arvorar, e firmamos parceria com outra, a Biofílica. Arvorar é um braço empresarial do IPÊ, que busca criar e implementar de maneira criativa, negócios que colocam a natureza no fluxo de uma economia ecológica, promovendo reflorestamentos em grande escala e outros serviços ambientais, incluindo aqueles que visam compensar as emissões de efeito estufa. Já com a Biofílica, estamos buscando apoiar a proteção de áreas privadas na Amazônia brasileira, com uma audaciosa estimativa de que cheguem a cinco milhões de hectares.


“Gostaria de deixar uma mensagem ao setor privado. Estamos com as portas abertas para juntos buscarmos maneiras inovadoras de fazer negócios ou de criar novas iniciativas que garantam lucro, mas também a perpetuidade dos recursos necessários”

Todo esse complexo de programas integrados de conservação e desenvolvimento, educação e negócios sustentáveis busca criar empreendimentos nos negócios, como os exemplos descritos a seguir, e outros que venham a ser pensados neste mesmo rumo:

Ecoturismo
O IPÊ está trabalhando há anos para a criação de critérios ligados a melhores práticas para o ecoturismo em algumas regiões. Nossa experiência mostra que o Brasil tem grande potencial de crescer neste setor, promovendo uma economia sustentável.

Pagamento por Serviços Ambientais
Temos trabalhado com carbono e recursos hídricos, mas a possibilidade é de ampliarmos substancialmente nossa atuação nesse setor, bem como incluirmos outros serviços que variam e acordo com o contexto e populações envolvidas.

Bancos de habitat para espécies
Esta é outra forma de negócio que vem ganhando força internacionalmente como uma formula de evitar a perda de espécies ameaçadas. Trata-se de certa forma de um tipo de compensação que envolve o setor privado com chancela do setor publico. Desta maneira, quando em virtude de uma necessidade de utilizar uma área de habitat de espécies ameaçadas, o empreendedor pode compensar com a aquisição de créditos que correspondem a áreas de habitat com as mesmas espécies sob a gestão de um desses Bancos.

Compensação de Reservas Legais
De acordo com nossos estudos e experiência em campo, essa é uma alternativa eficiente para o cumprimento do Código Florestal brasileiro. Ela permite que produtores rurais estabeleçam as reservas legais de suas propriedades nas terras de terceiros que possuam excedente, compensando-os financeiramente por isso.

Restauração Florestal
A demanda por reflorestamento e reconstituição de florestas nativas no país e no mundo é enorme, mas a experiência que acumulamos em tantos anos desenvolvendo projetos de reflorestamento, nos mostra que se esse processo não for realizado por profissionais preparados, não é possível alcançar bons resultados.

Para finalizar, creio ser importante enfatizar que estamos de portas abertas para todos aqueles que se interessam em buscar iniciativas que garantam desenvolvimento, mas também perpetuidade dos recursos do planeta. Nossa equipe está preparada (além dos profissionais que temos formado) para que possamos trabalhar com todos os que comungam dos reais princípios de sustentabilidade.

Um grande abraço
Cláudio Valladares Pádua
Vice-presidente do IPÊ e Reitor da ESCAS








Um comentário:

  1. Gde CP! Orgulho de ser um ramo desse nosso IPÊ forte e frondoso. O mundo precisa de muitos e muitos IPÊs! Abração, Ale mineiro.

    ResponderExcluir