segunda-feira, 28 de junho de 2010

Inventário da flora do Brasil


Em 10 de abril de 1817 zarpava de Trieste em direção ao Brasil a fragata Áustria, integrando uma comitiva que acompanharia a futura imperatriz do Brasil, Dona Leopoldina da Áustria. O casamento entre a princesa austríaca e o príncipe herdeiro do trono português, Dom Pedro de Alcântara, proporcionou a oportunidade de organizar uma grande missão científica ao Brasil. À bordo da fragata estavam os pesquisadores Johann Baptist von Spix e Carl Friedrich Philipp von Martius. No total, a comitiva contava com 14 naturalistas, além de desenhistas e pintores.


No Brasil, Spix e Martius percorreram aproximadamente 10 mil quilômetros durante 3 anos, passando por São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Piauí, Maranhão, Pará e Amazonas. Difícil imaginar as condições em que foi realizada tamanha empreitada naquela época. No que diz respeito à flora, vasto material botânico foi coletado, acompanhado de anotações e ilustrações. O material foi depois enviado à Europa, sendo analisado e sistematizado por 65 botânicos de vários países.

Entre os anos de 1840 e 1906, toda essa informação foi organizada e publicada em 15 volumes na grandiosa obra Flora brasiliensis. No total são 10.367 páginas e 3.811 ilustrações de plantas, flores, frutos e sementes. 22.767 espécies estão descritas no que é considerado o mais completo levantamento já feito da flora do país, sendo utilizado até hoje como referência em estudos botânicos.

Mais de cem anos depois da publicação do último volume da Flora brasiliensis, o Brasil empreende novo esforço para catalogar a sua flora. Em 21 de maio de 2010, dia mundial da biodiversidade, foi lançada a versão online da lista oficial de espécies da flora brasileira em cerimônia realizada no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Ao todo são 40.989 espécies, incluindo fungos e algas, num esforço que durou aproximadamente 1 ano e contou com a participação de mais de 400 taxonomistas.

Através da lista oficial da flora, o Brasil dá um passo importante rumo ao conhecimento e à conservação de sua biodiversidade, atingindo também a primeira meta da Estratégia Global para a Conservação de Plantas (GSPC). A existência de um catálogo de espécies conhecidas ajuda na definição de estratégias amplas de conservação, estimula a realização de estudos mais abrangentes, bem como facilita a criação de instrumentos legais para conservação. A lista oficial de plantas servirá como ponto de partida para várias outras iniciativas, entre elas a definição das próximas listas oficiais de espécies ameaçadas da flora. Estas também serão coordenadas pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro, através do Centro Nacional de Conservação da Flora.

É claro que trata-se apenas do começo, afinal ainda há um longo caminho a percorrer até que sejam descritas todas as espécies que ainda estão por ser descobertas (em média a cada 2 dias é descrita uma nova planta no Brasil). O esforço para manter a lista atualizada deve ser contínuo, não somente incorporando novas descobertas, mas também incorporando o resultado de revisões taxonômicas. Mesmo que o trabalho não tenha sido perfeito e que existam eventuais erros, há que se destacar o empenho de todos aqueles que participaram na elaboração da lista. Por muito tempo ficamos sem saber quantas e nem quais espécies da flora brasileira eram conhecidas.

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