sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Mas e aí, diante das dúvidas, o Mercado de Carbono é um investimento de risco?


Sim, investir em um negócio baseado nas mudanças climáticas é arriscado. Embora existam provas concretas sobre o aumento da temperatura e do nível do mar, diversos outros fatos ainda são consideradas tendências climáticas, ou seja, não há certeza absoluta de que irão ocorrer. Por isso, o risco de se investir agora é que no futuro, teoricamente, as tendências podem não se concretizar e o clima não mudar como previsto. Assim, possíveis taxações governamentais deixarão de ocorrer e os consumidores certamente não estarão dispostos a pagar por um produto que está agregado a algo que não exista.

No entanto, a ciência, ou as análises estatísticas, é uma faca de dois gumes (ou legumes) para o investimento privado, pois, embora traga argumentos para as escolhas e projete cenários futuros, ao mesmo tempo, ela não é rápida o suficiente para acompanhar as mudanças do mercado. O que acontece é que o tempo necessário para que algo seja provado cientificamente, pode demorar mais do que um acionista está disposto a esperar para fazer o seu investimento ou do que o CEO de alguma empresa está disposto a atrasar a reunião para estipular quais serão as novas diretrizes. Por isso, até que se prove cientificamente que algo irá acontecer, alguém já investiu naquele modelo e o mercado já ficou saturado, mostrando não ser mais um bom investimento. Assim, é necessário colocar na balança: até que ponto esperar uma tendência se concretizar, até que ponto arriscar.

Para aquelas pessoas que não gostam de arriscar, não jogam pôquer e não andam de montanha russa porque existe uma chance de cair, um bom negócio é a franquia. A franquia é uma estratégia de mercado de venda de licença, em que o fraqueado (aquele que quer começar) cede ao franqueador (“pai da ideia”) o direito de uso da sua marca, infra-estrutura, conhecimento e direito de distribuição exclusiva ou semi-exclusiva. A lógica da franquia é comprar um modelo de negócios pronto e com retorno rápido, cujo risco de não dar certo é pequeno. No entanto, paga-se por isso. Pode-se pagar apenas royalties para o franqueador ou também o chamado fundo de propaganda. Esses podem variar de 5% a 10% do lucro líquido da empresa. Basicamente, quanto menor o risco do investimento, maiores as taxas.

Agora, para os jogadores de pôquer e apaixonados por montanha russa grande e perigosa, a franquia não é uma boa opção. Pois, de certo modo, ela limita o empreendedorismo e estipula diretrizes rígidas para serem seguidas. Não há muito espaço para a inovação. Por exemplo, o dono de uma franquia do Mcdonalds, no centro de Londres, jamais poderá inovar no lanche e trocar picles em conserva por cenoura em conserva, mesmo que sinta que cenouras em conserva são a grande chave para que finalmente o Mcdonalds conquiste o paladar dos ingleses. Nos modelos de negócios sustentáveis essa questão é ainda mais séria, uma vez que esse modelo já é, no seu cerne, uma inovação, e para ter continuidade e sobrevivência também é necessário permitir que esteja em constante mudança.

Empreendedores não pensam com a razão; se pensam, a razão é outra, por isso preferem arriscar e ter a possibilidade de inovar. Conta-se, por exemplo, que quando Luiz Seabra, na década de 60, teve a ideia de criar uma empresa de cosméticos que realizava venda direta de produtos, foi desaconselhado. Acreditava-se que jamais as pessoas estariam dispostas a pagar por produtos de beleza. No entanto, Seabra já possuía uma pequena loja de produtos de beleza, frequentada pelas pessoas do entorno. Percebendo que o movimento era grande, concluiu que não apenas seus vizinhos, mas muito mais gente, estaria disposta a pagar pela sua consulta estética e seus produtos. Aquilo que uma pesquisa estatística teria dificuldade de provar, para Luiz Seabra já era certeza, e, com a ajuda de outros sócios, criou a Natura Cosméticos. Hoje, a Natura é uma das maiores empresas do Brasil e vem constantemente ultrapassando recordes de lucratividade.

Por isso, além do argumento das tendências é importante perceber a disposição do consumidor para aquele tipo mercado. Esse balanço entre percepção e prova científica é o tempero necessário para um investimento.

Na questão do aquecimento global é interessante notar que, atualmente, embora alguns fatos climáticos não estejam cientificamente provados, como mudança da precipitação e ciclones tropicais, muitas pessoas já fizeram a sua escolha. A relação inter pessoal entre personalidade e clima mudou muito nos últimos anos e, mesmo que nem todas as mudanças no clima sejam confirmadas, muitas pessoas já estão dispostas a reduzir a quantidade de carbono emitido, pois se sabe que algo não natural está acontecendo.

Por isso, diante das incertezas cientificas, o empreendedor não pode ter dúvidas. A ciência com certeza ajuda nas tomadas de decisões – as tendências climáticas, por exemplo, apenas foram observadas graças aos experimentos científicos –, mas aliadas a essas tendências, as percepções de um bom empreendedor também devem pesar nessa balança. Pois ao final, sempre, o que irá fazer a diferença é a escolha do consumidor. E para um bom empreendedor, a resposta do título deste texto é não.

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