sábado, 4 de dezembro de 2010

Empresas Sociais, resolvendo a água no Paquistão


Empresas sociais lembram muito ONGs, ou projetos filantrópicos, no entanto, elas são bem diferentes. Montadas pelos chamados empreendedores sociais, elas não apenas criam um modelo econômico de doação de dinheiro como uma ONG, mas geram lucro através da promoção da qualidade ambiental e social. Por essa característica, alguns autores chamam esse tipo de empresa de 2,5 (por estar entre o segundo e o terceiro setor).

Um caso interessante da criação de empresas sociais envolvendo a questão da água aconteceu no Paquistão, um lugar em que a população é pobre e água potável é artigo de luxo – chegando a custar quase U$ 5 o litro. Mas, antes de configurar qualquer esperança no coração e acreditar que o mundo é colorido, esse caso não deu certo. Contudo, ele continua a ser muito importante, pois mostra que é possível estruturar empresas com perfil de ONGs mas que geram fins lucrativos e, ao mesmo tempo, mostram que não é uma tarefa fácil, ensinando alguns erros que os empreendedores sociais não devem cometer.

Pani Ghar tinha o sonho de resolver o problema de água potável para a população pobre no Paquistão. A sua ideia era encontrar alternativas viáveis para a purificação da água, pois todas as soluções governamentais e privadas tentadas anteriormente não tinham dado certo. O principal problema era o alto custo da tecnologia utilizada no processo.

Em uma pesquisa de mercado, identificou que o preço que poderia ser pago pela população seria de não mais que U$ 0,2 por litro (25 vezes menos do que o preço corrente!). Após esbarrar em diversas tecnologias que não satisfaziam sua proposta – produzir água ao preço estimado –, encontrou um modesto engenheiro local que tinha desenvolvido um protótipo de filtragem através das plantas, que barateava a produção. Ali estava a chave do seu sonho. E, junto com o engenheiro, montou a empresa. É interessante notar que, mesmo que todos os indicativos dissessem que não, Pani Ghar sempre acreditou que existia algum modo de purificar a água a um preço baixo e por fim encontrou. A diferença entre ele e todas as outras iniciativas privadas e governamentais que tentaram o mesmo, é que Pani Ghar não ficou passivo diante da realidade, foi atrás de novas tecnologias – pensou fora da caixa.

Embora tivesse alguns problemas iniciais de logística para a entrega da água, Pani Ghar superou todas as dificuldades e, com auxilio de profissionais qualificados na área de negócios, desenvolveu a gestão da empresa. Após seis meses, a receita dobrou e a empresa já era auto-suficiente.

Para abranger o seu negócio, Pani Ghar, preparou um plano para abrir dez filiais com a sua marca, no entanto, para efetivar a ideia precisava de um grande financiamento. Avaliado por uma comissão de investidores sociais, ele conseguiu parte do chamado capital (ou fundo) semente (seed fund). Esse fundo pode ser proveniente de governos internacionais, companhias privadas, ou mesmo, pessoas particulares interessadas na promoção do empreendedorismo social. No entanto, nada é feito sem um boa gestão e, diante da falta de planejamento a longo prazo, tais investidores podem redirecionar seus focos para outros empreendedores.

Com a primeira parte do dinheiro, Pani Ghar, investiu no desenvolvimento da gestão interna dos seus negócios, o que não agradou seu sócio, pois discordava desse tipo de investimento. As brigas entre eles se estenderam para outros patamares da empresa, e essa falta de coerência interna fez os investidores internacionais cortarem sua verba. No último trimestre de 2007 a empresa de Pani Ghar foi à falência.

A ideia de Pani Ghar era realmente muito boa e, como um bom empreendedor social, pensou fora do contexto e encontrou uma solução para a produção de água a um baixo custo. Contudo, empresas sociais devem ter uma gestão altamente acurada, pois, normalmente, trabalham com produtos de baixo valor agregado. Com isso, o empreendedor social deve continuar a ser independente, pelo menos até que a fase piloto do produto seja bem sucedida. A dependência de um fator externo, incluindo uma organização ou um investimento na fase inicial, pode ser fatal.

Dessa forma, as soluções para o fornecimento de água potável, assim como sua preservação, devem passar pela criação de empresas sociais. Com uma boa gestão empresarial e estrutura de negócios, essas empresas podem ser os representantes mais nobres de uma economia sustentável, em todos os seus sentidos.

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