sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O dia de Ação de Graças e a história, sem graça, da galinha do urzal e milhares de outras espécies

No começo do século 18th a galinha do urzal (Tympanuchus cupido cupido), que estava entre as espécies de aves mais comuns dos EUA, era encontrada em quase toda a costa leste e ao sul do Canadá. Alguns dizem até que o primeiro jantar do dia de Ação de Graças foi saboreado à base de galinha do urzal e não, como normalmente é retratado na história, de peru selvagem. Verdade ou não, por ser fácil de caçar e viver em locais de fácil acesso, essa galinha era muito utilizada na alimentação. Como consequência, em 1830, ela tinha desparecido do continente, sendo apenas encontrada na ilha de Marth’s Vineyard.

Em 1908, em uma das primeiras atitudes conservacionistas da história, foi estabelecida uma reserva, dentro da ilha, para a preservação das últimas 50 aves. Como não havia caça, em menos de 10 anos o número de indivíduos aumentou para mais de 1000. Nesse momento a população da galinha do urzal estava com boas perspectivas. No entanto, quando algo está indo muito bem, provavelmente irá piorar, depois da bonança vem a tempestade. Para a galinha do urzal a tempestade foi o ano de 1916, e veio em forma de incêndio, inverno rigoroso, seca e uma doença de aves domésticas. Após tudo isso, em 1928, 13 aves estavam vivas, sendo apenas duas fêmeas. Em 1930 somente uma ave estava viva. Em 1932 morreu o último indivíduo dessa espécie, levando a galinha do urzal à extinção (Begon et al 2008).

A espécie exemplificada foi apenas mais uma entre as bilhões já extintas na natureza. Para ter uma idéia, 99% das espécies que existiram na terra já foram extintas, e 99% das espécies que existem hoje serão extintas daqui a milhares de anos. No entanto, diferentemente de muitas das espécies que se extinguiram na natureza, a galinha de urzal foi extinta por modificações (ou impactos) causadas pelo homem. Provavelmente, se essa espécie não fosse exaustivamente usada para a alimentação, ela seria até hoje encontrada na costa leste americana, e apenas estaria extinta daqui alguns milhares de anos. Infelizmente, casos de extinção como o dessa espécie são cada vez mais comuns.

Estimativas teóricas do número de espécies extintas diretamente ligadas com as modificações causadas pelo homem chegam a valores assustadores. Baseados em registros fósseis, na relação entre o número estimado de espécies presentes em uma determinada área e na taxa de desmatamento, são gerados modelos que tentam aproximar-se da realidade. Em um estudo publicado na revista cientifica Nature (em 2000), pelos pesquisadores Stuart Pim e Peter Raven, foi estimado que se as taxas de desmatamento continuarem iguais nas florestas tropicais, em 100 anos, cerca de 40% das espécies existentes hoje serão extintas. Em uma segunda estimativa Martha Groom (2006) chegou a um número de 5000 espécies extintas por ano nas florestas tropicais. No entanto, essas estimativas dependem de valores pouco precisos, como, por exemplo, o número de espécies que existem nas florestas tropicais, e, embora válidos, são valores especulativos e podem estar superestimados.

Outra estimativa é descrita pela organização não governamental IUCN- International Union for Conservation of Nature. Ela reúne estudos sobre espécies selvagens feitos no mundo todo e publica uma lista com as que estão em perigo de extinção ou que foram extintas. Pela lista de 2009, 723 espécies de animais e 86 espécies de plantas já foram comprovadas cientificamente como extintas até hoje. Contabilizando entre os anos de 1900 e 2000, cerca de 100 espécies de pássaros e mamíferos foram extintos. Se pegarmos o total de pássaros e mamíferos do mundo (15 333 espécies), foram extintos 0.65 % de todos os mamíferos e aves nesse período, ou uma espécie de mamífero ou ave foi extinta por ano (Groom 2006). Entretanto, essa estimativa também não é precisa, e esse número de espécies extintas pode estar nesse caso, subestimado. Para estar presente na lista da IUCN, a espécie tem que ter sido detalhadamente estudada, o que é uma realidade para poucas. Para se ter uma ideia, o número de espécies classificadas (o que é bem diferente de estudadas) no mundo está abaixo de 2 milhões, e as estimativas para o número real estão entre 5 e 50 milhões (May 1988). Cientificamente, são descritas cerca de 300 novas espécies a cada dia (Orians & Groom, 2006). No entanto, mesmo possivelmente subestimadas, as taxas de extinção descritas pela IUCN são bem maiores que as verificadas quando não havia a presença do homem.

A extinção natural de uma espécie pode ocorrer de diversas maneiras. Se uma nova espécie surge e começa a competir com outra de forma intensa, provavelmente uma delas será extinta. Ou, após uma mudança de clima que leve uma região a mudar suas características não sendo mais fonte de alimento para uma determinada espécie, ela também pode ser extinta. Contudo, esses dois exemplos, assim como inúmeros outros fatores que podem causar extinção de uma espécie de forma natural, são processos lentos que podem demorar milhares de anos. Uma mudança de clima dura, no mínimo, 10 mil anos.

Pelos registros fósseis, podemos comparar as taxas atuais de extinção com as causadas por consequências naturais. Para aves e mamíferos, por exemplo, a média encontrada nos registros fósseis é de cerca de 0,003 espécies por ano. Comparando com o valor atual (1 espécie por ano), aquela taxa é cerca de 300 vezes menor. Segundo o pesquisador David Raup, da universidade de Chicago, a taxa atual de extinção para os recifes de corais, é equivalente a uma taxa de extinção natural de um intervalo de 10 milhões de anos. Alguns pesquisadores dizem que os valores atuais de extinção são próximos, ou até superiores, aos das grandes extinções em massa que ocorreram na história da terra (como, por exemplo, a que dizimou os dinossauros) (Groom 2006).

Assim, o problema do impacto ambiental está intimamente ligado com a extinção de espécies. A grande modificação que estamos fazendo no ambiente é responsável pela extinção de milhares de espécies selvagens. E, para conseguirmos atingir a sustentabilidade, devemos entender como as espécies se extinguem e prospectar até que ponto podemos modificar a natureza sem que haja extinção. Uma vez extinta, atualmente, é impossível ressurgir uma espécie. Portanto, mesmo que confirmem que o primeiro jantar de Ação de Graças foi realizado com a galinha de urzal, a comemoração vai ter que continuar a ser feita com peru.

Um comentário:

  1. nao tem nada de interessante voces podiam colocar o porque existe o dia de acao de gracas e isso que eu estou procurando ta valeu ..........

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