quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Entrevista com Carlos Tucci (por Laryssa Caetano)


Carlos Eduardo Morelli Tucci é Doutor em Recursos Hídricos e atualmente é professor colaborador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professor titular da FEEVALE.





Em Campo Grande, há um lixão (que está em processo de mudança para aterro sanitario) que, pela própria característica, é problemático, o que isso implica no aqüífero guarani?


Tucci: Em primeiro lugar, tem que verificar se o aterro está numa área de recarga. Daí eu não sei, eu não poderia dizer, mas se ele está numa área de recarga, ele não pode estar ali, você tem que tirar ele dali e levar para uma área que não seja. Porque a área de recarga é justamente aquela onde a água alimenta o aqüífero, então a primeira coisa que você escolhe é o local de aterro é não escolher numa área de recarga. Esse é o primeiro item que você tem que analisar. Se não tiver, tudo bem, então você tem que dar soluções técnicas de aterro adequados para que você minimize o impacto sobre o aqüífero local. Mas a primeira coisa fundamental, é verificar se ela ta numa área de recarga.



E essas áreas de recarga no Brasil, o senhor tem ciência se elas são freqüente? E nos outros países?


Na área de recarga você tem geralmente, o aqüífero, ele é confinado, ou ele não é confinado. Não confinado, todas as pessoas que estão em cima dele, contaminam ele. O confinado é através da área de recarga, que fica numa determinada cota que a água entra por ali e alimenta. É como você tivesse placas fechando e tem os pontos que você alimenta esse aqüífero. Se você proteger aquilo lá, você procurar um cartesiano, você não tem problema, que é água de qualidade. Mas você vai depender da proteção. Então, isso é da geologia de cada local, de cada área você encontrar esses condicionantes. E obviamente, no caso do Guarani, como Campo Grande está nas bordas do aqüífero, evidentemente ele pode contribuir para alimentar. Só que o Guarani não é uma grande lâmina de água lá do solo, integrada, bonitinha. Ela é toda fragmentada. Não tem tanta continuidade como as pessoas imaginam. Então, obviamente, se você contaminar o seu aqüífero, você vai sofrer aqui, dificilmente vai transferir para tão longe.


De uma forma geral, essas bacias estão sob o domínio do governo federal ou do estado. E o aqüífero?


É uma boa discussão. Teoricamente, a gente sempre adota que o divisor da área topográfica é um divisor do aqüífero, nem sempre é. Até um certo tempo, quem dava concessão de água subterrânea era o DPM (departamento de pesquisas minerais). Eu não sei agora como fechou, o acerto entre a ANA e o departamento com relação a concessão do uso da água de poços. Porque se você perfurar um poço alinhado ao lado do rio, você ta tirando água do rio.

A entrevista aconteceu em 2008, durante a Semana da Água, na UFMS e foi feita pela jornalista Laryssa Caetano.

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