sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O Preço da Revolução Verde



No último curso que fiz no IPÊ, fim de semana passado, conheci, dentre várias figuras muito interessantes, Mônica Borba. A Mônica é daquelas pessoas pró-ativas que fazem mil coisas ao mesmo tempo – a maioria daqueles que trabalham no terceiro setor conhecem bem essa dinâmica. Pedagoga de formação e fundadora da OSCIP 5 Elementos, ela ainda participa de diversos conselhos e é parceira e curadora do cineclube socioambiental na Sala Crisantempo, espaço cultural localizado na Vila Madalena. Curiosa para conhecer o lugar, fui ontem com mais dois amigos desse mesmo curso no IPÊ assistir o filme “O preço da semente” (El Precio de La Semilla).

O documentário aborda a questão da soja transgênica na Argentina e dos seus desdobramentos, principalmente os impactos sócio-econômicos e culturais. Os tristes depoimentos da família gaúcha desempregada e dos campesinos desapropriados, todos abandonados a própria sorte, que resistem no campo sem nele nada poder plantar nos faz refletir sobre a nossa realidade de culto à “monocultura”. A imposição hegemônica de uma única cultura em todos os seu aspectos causou um esvaziamento no campo, desmantelou as comunidades rurais e a cultura do campesinato junto às práticas tradicionais de agricultura , forçou a migração dessa população para viver indignamente nas cidades e, ofereceu em troca muito Roundup Ready!

A principal característica dos transgênicos é ser resistente à ação de agrotóxicos, como é o caso da soja com o gene Roundup Ready, produzido pela Monsanto e que não morre com a aplicação do herbicida glifosato, também produzido e comercializado pela mesma empresa. Assim, o “pacote químico” de algumas agroindústrias é enfiado goela abaixo dos produtores ruais. Os que acabam cedendo à soja, trabalham apenas 5 dias ao ano, pois todo o processo é mecanizado. Os trabalhadores rurais trocados pelas máquias são mandados pra cidade. E o que acontece aos moradores do entorno das plantações, cujos proprietários não respeitam a distância mínima para aplicação dos agrotóxicos? Isso mesmo que você pensou! São contaminados!

O filme também mostra um coletivo de mulheres do bairro vizinho às plantações em Córdoba, que, através de um levantamento de todas as mortes e doenças ocorridas nessa área após a prática do fumigo, registraram mais de 300 casos de doenças (as quais algumas levavam à morte), dentre elas várias infecções, cânceres e má formação do feto. As mulheres, cuja garra lembra as famosas 'Mães da Praça de Maio', não se cansam de entrar em contato com as autoridades e bater de frente com o agronegócio, entrando nos campos de soja tentando impedir a aplicação do veneno. Tachadas pela mídia de “ecológicas” e “ambientalistas”, essas mulheres são, antes de tudo, lutadoras pelo direito à vida. Vida digna e de saudável!

'O preço da semente' foi realizado por um coletivo chamado Vozes da América (vozesdaamerica.blogspot.com) em parceria com o Cineclube Socioambiental (www.cineclubesocioambiental.org.br). O filme faz parte de um projeto desse coletivo de 3 documentários filmados respectivamente na Argentina, Uruguai e Paraguai abordando diferentes temas representativos e latentes na realidade de cada uma dessas nações (o do Uruguai fala sobre a herança da ditadura e o do Paraguai sobre a enaltação da cultura guarani paralelo ao descaso com os indígenas). Aguardem a exibição dos outros dois documentários no Cineclube semestre que vem!

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