segunda-feira, 26 de julho de 2010

Mas o que seria o impacto ambiental?

No dia 11 de Fevereiro de 2010 foi veiculada em alguns meios de comunicação a seguinte noticia: “Tráfego intenso causa grande impacto ambiental no litoral de Sergipe. O fluxo contínuo de carros e motos impede que os filhotes de Tartarugas Oliva saiam do ninho e cheguem à praia”. Uma segunda notícia veiculada nove dias antes - “Reciclagem do lixo reduz o impacto ambiental em Vitória da Conquista” - também discutiu a questão do impacto ambiental. Quarenta anos antes, em 1º Janeiro de 1970, o congresso norte americano aprovou a primeira, e uma das mais importantes, lei ambiental da história (Cashmore 2004). Ela tornava obrigatória a avaliação dos impactos ambientais (EIA – Environmental Impact Assessment) para a instalação, construção e funcionamento de grandes empreendimentos.

Os três episódios, embora façam parte da mesma preocupação ambiental, tratam o tema de modo diferente. Enquanto a primeira abrange apenas o problema de impacto ambiental à sobrevivência de filhotes de Tartaruga Oliva, a segunda envolve a cidade de Vitória da Conquista, e a terceira, todo o território norte americano. Assim, o impacto ambiental é usado com um caráter holístico.

Mas, o que ele seria afinal?

O primeiro sentido da palavra “impacto” está relacionado à modificação. As modificações causadas por algo “em outro algo” são seus impactos. Ao amassarmos uma folha de papel, modificamos a sua forma. Ao mexermos um copo em cima da mesa, modificamos o seu lugar. Sempre estamos modificando tudo que está no nosso entorno. Em um sentido mais amplo e filosófico, não existe vida sem modificação. Com relação aos impactos ambientais, podemos seguir a mesma lógica e considerar que são modificações no ambiente. Portanto, no passeio mais bucólico que fazemos ao ar livre causamos impacto ambiental. Podemos passar por cima de uma formiga ou pisar em uma grama. Em apenas uma hora de puro contato com a natureza seria fácil enumerar milhões de pequenos impactos causados. Inevitavelmente modificamos o ambiente.

Contudo, a questão principal é a escala que o impacto ambiental atinge. Uma analogia interessante é com a idéia de casa (a mesma que Haeckel usou para criar a palavra ecologia). Imaginemos uma casa que acabou de ser construída. Todas as ferragens, paredes e pisos estão no seu mais novo estado, e nada está fora do lugar. Quando a primeira pessoa entrar na casa, algumas modificações serão causadas. Uma pisada mais forte pode danificar a cera do chão; ao abrir a janela, a tinta fresca da ferragem pode ser riscada e, com um pouco de azar, a maçaneta do armário da cozinha pode sair na sua mão. Entretanto, tais modificações não irão fazer com que a casa fique imprópria para uso, ou, em termos monetários, não será desvalorizada. Agora imaginemos uma retroescavadeira entrando na casa. Mesmo que ela entre pela porta da frente, as modificações causadas estarão em uma escala muito maior que as da pessoa. Provavelmente, em meia hora de passeio dentro da casa, muito mais coisas serão modificadas. Ao sair, a casa, provavelmente, estará imprópria para o uso e, em termos monetários, não estará com boas perspectivas de venda. Assim, a pessoa e a retroescavadeira causaram impacto na casa, contudo, a abrangência do impacto é a grande diferença. Na natureza, em vez de danos ou estragos em portas e paredes, causamos modificações no ambiente.

Grandes modificações na natureza trazem consequências para todos os seres vivos. Similarmente ao exemplo da casa, os impactos ambientais podem tornar a natureza imprópria para o uso, e com duas consequências principais: a extinção de espécies selvagens e o fim dos recursos para o nosso bem estar.

Não esquecendo do tripé!

Vale lembrar que quando pensamos em sustentabilidade, sempre devemos voltar ao tripé e refletir sobre as questões ambientais, sociais e econômicas. Uma avaliação horizontal dos impactos dessas três variáveis é um dos objetivos principais da sustentabilidade (Lee 2006).

Um exemplo foi dado pela mineradora ALCOA Alumínio S.A.. Após adquirir a Reynolds Metals, em 2000, iniciou a prospecção mineral e definiu a construção da uma mina para exploração de bauxita na cidade de Juruti (extremo oeste do Pará). Junto com o Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FunBio), foi montado uma parceria para criação de uma agenda sustentável para o município. O projeto de sustentabilidade para região, chamando de Juriti Sustentável, se baseou na criação de três frentes principais: Um fórum, ou conselho, local, indicadores de desenvolvimento e um fundo de desenvolvimento sustentável. A primeira frente volta-se para as angústias pessoais da comunidade a qual é parte importante das percepções sociais. A segunda frente visa monitorar as transformações sociais, ambientais e econômicas da região para acompanhar, em longo prazo, os impactos da presença da mina. A terceira frente seria um modo de captar recursos financeiros e investir em ações baseadas nas necessidades apontadas pelos indicadores de desenvolvimento (GVCes – Alcoa – FunBio 2006).

Apesar de toda a preocupação por uma gestão sustentável, o projeto Juriti apresentou alguns problemas. O ministério público já apura algumas queixas sobre contaminação da área das comunidades e alguns moradores reclamam de inúmeros impactos ambientais. Contudo, apesar dessas eventualidades, o projeto Juriti Sustentável tornou-se uma importante referência de horizontalidade da avaliação dos impactos ambientais, sociais e econômicos. Um importante exemplo de como devemos lidar com o tripé da sustentabilidade.

Referências:

Cashmore, M. The role of science in enviromental impact assessment: process and procedure versus purpose in the development of theory. Enviromental Impact Review, 25. 2004

Lee, N. Briding the gap between theory and practice in integrated assessment. Enviromental Impact Review, 26. 2006

Um comentário:

  1. Well Rafael, its very good to hear about you!! I wish you all the best lucky in your life because you are a great, smart and Intelligent guy. I hope hear more from you. take care... Sabrina Sens.com

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