sábado, 17 de julho de 2010

The Cove- A baía da vergonha



“Você nunca deve esperar por governos ou instituições para resolver os problemas, toda mudança social vem da paixão das pessoas”, assim é citada a frase da antropóloga Margaret Mead no documentário ganhador do Oscar The Cove (2009). Foi justamente a paixão pela conservação da vida marinha que o diretor e membro fundador da OPS (Oceanic Preservation Society), Louie Psihoyos, se juntou a Ric O'Barry, cuja paixão por golfinhos o fez ativista mundialmente reconhecido, para mostrar ao mundo a maior matança de golfinhos atualmente cometida! Entre os meses de setembro à março, em uma baía escondida dentro da área do Parque Nacional Tsunami, na pequena cidade de Taiji, no Japão, cerca de 23.000 golfinhos são brutalmente mortos.

Com pouco mais de 3.000 habitantes, Taiji é uma bela cidade turística, repleta de templos budistas, abriga o Museu da Baleia bem como parques marinhos, passeios temáticos para ver baleias e golfinhos, além de possuir o status de comunidade litorânea baleeira, onde se pode saborear a carne desses animais. Durante os seis meses da temporada de caça, um pequeno grupo pesqueiro atraí os golfinhos à baía através de ruídos emitidos pelos barcos. Animais de audição aguçada e sensíveis ao ruído dos barcos, os golfinhos nadam em direção à baía, onde são encurralados. Após feita a triagem de quais animais ficarão em cativeiro nos parques temáticos, os demais são todos abatidos e tem sua carne vendida muitas vezes embalada e etiquetada como carne de baleia nos supermercados japoneses.

Taiji é o maior fornecedor de golfinhos para parques marinhos do mundo inteiro, como o Sea World, e para a indústria alimentícia japonesa. Por ocupar o mesmo nível trófico da cadeia alimentar que o nosso, a carne de golfinho possui altíssimas concentrações de mercúrio (20% a mais que o nível estabelecido pela OMS), e mesmo assim é distribuída gratuitamente na merenda escolar das crianças de Taiji como forma de propaganda.

O único órgão de amplitude global que lida com questões dessa natureza é o International Whale Commission- IWC, que em 1986 proibiu a caça de baleias com exceção para fins de pesquisa. Além de se apropriar dessa brecha para continuar caçando, o Japão conseguiu excluir os golfinhos das categorias de cetáceos a serem protegidos pela comissão. Indo ainda mais longe, o país paga para outras nações falidas e que não possuem tradição de pesca se associarem à comissão e assim poderem votar a favor das propostas japonesas nas reuniões, como tornar novamente legal a caça às baleias.

É inserido nessa complexa trama que Psihoyos desenvolve uma emocionante e comovente narrativa jornalística ao recrutar uma equipe habilidosa visando driblar as barreiras impostas pelo consórcio entre pescadores de Taiji e o governo japonês para mostrar ao resto do mundo a carnificina que dizima 23.000 golfinhos ao ano!
Independentemente do motivo (inteligência ou graciosidade morfológica), o fato dos golfinhos serem uma espécie carismática em várias partes do mundo, principalmente na cultura ocidental, constitui-se numa grande arma a favor da luta pela sua conservação e proteção. Infelizmente, no mundo há milhares de outros seres vítimas de atrocidades humanas que sequer são reconhecidas ou debatidas.

Assim como fez a equipe americana no Japão, será que nossa sociedade precisará de um documentário feito por hindus e budistas sobre o massacre diário não apenas de bovinos, como suínos e aves também, nas sombrias fazendas industriais americanas para se sensibilizarem e posicionarem-se contra a cruel prática de confinamento?

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