segunda-feira, 14 de junho de 2010

Hybrids, um modelo inovador da união entre think tank, broker e consultoria

São 6:30 da tarde, horário de Londres, 12 de Abril. É o meio da primavera, e a magnólia no jardim já começa a perder suas flores. Dentro do escritório é impressa a última folha do mais novo relatório da organização inglesa Volans: The Biosphere Economy, uma revisão sobre economia global voltada para os serviços ambientais.

A definição mais simples de uma organização think tank, é a referência a um instituto de pesquisa que se dispõe a resolver problemas ou predizer planos futuros de desenvolvimento. Contudo tal definição não mensura a importância atual desse tipo de organização.

O começo do crescimento desse modelo de organização não é muito antigo, embora existam think tanks do começo do século XX (como a Federal Trust ou Royal Institute of International Affairs), o marco de surgimento desse tipo de organização foi o livro de Paul Dickson, Think Tank de 1971. De lá para cá, o número de organizações cresceu, e tem apresentando grande influencia em todo cenário político e econômico.

O produto básico de uma think tank é a produção de relatórios. Diferentemente de uma produção cientifica, os relatórios são mais atuais e dinâmicos. Enquanto um artigo cientifico demora de um a dois anos para ser publicado, os relatórios de organizações think tank podem ser produzidos em prazos bem mais curtos. Embora as informações contidas em relatórios não passem pelo mesmo rigor acadêmico exigido em uma produção cientifica, elas são, normalmente, mais adequadas às velocidades de informação exigidas pelas políticas econômicas e pelo mercado. Um exemplo claro foi durante o processo de criação da União Européia, em que, segundo uma pesquisa coordenada pelo consultor de políticas energéticas Stephen Boucher, os debates políticos e imposições de metas foram majoritariamente baseados em relatórios produzidos por think tanks.

Hoje, diante da atual crise ambiental, as organizações think tank começam ter mais um importante papel, o de direcionar os caminhos da sustentabilidade.

O primeiro modelo de think tank com a proposta de sustentabilidade surgiu em 1987. Poucos meses após o relatório Nosso Futuro Comum do Comitê Brundtland, John Elkington e Julia Hailes criaram a SustainAbility. Contudo, a SustainAbility não foi criada como uma simples organização think tank, ela é uma hibrida (no inglês Hybrid), parte think tank parte consultoria. Na mesma característica que outras think tanks, a SustainAbility gera relatórios de tendências na conciliação entre as necessidades econômicas, ambientais e sociais, e, ao mesmo tempo, presta consultoria para agregação de um modelo sustentável em outras organizações.

Em um primeiro momento, o que parecia ser uma perda energética para a realização da consultoria, o modelo hibrido de organizações começou a ser replicado. Apenas alguns exemplos na Europa são Tomorrow’s Company e a Utopis criadas em 1993, a Forum for Future criada em 1996 e Futerra criada no final dos anos 90. Em 2008 o próprio John Elkington, na companhia de mais três outros fundadores, criaram uma segunda organização no mesmo modelo, a VOLANS.

Mas porque esse modelo vem sendo replicado?

Segundo Sam Lakha (Outreach Manager da VOLANS) a resposta vem em forma de pergunta: “se temos informação adquirida através das consultorias, porque não compartilhá-las?” e continua “o que resume uma empresa think tank é o auto-questionamento continuo, é a busca da informação e o compartilhamento dela. Uma think tank pode estar na figura de uma organização, ou até de uma pessoa que busca o conhecimento.”

No entanto, esse modelo híbrido de think tank / consultoria tem sido replicado em alguns países principalmente porque tem gerado grande lucro, e o motivo é simples. Ao se dispor para gerar e receber conhecimento a organização expõe suas missões e valores a diversas redes de contanto. Um relatório produzido normalmente chega à mesa de diversos CEOs de grandes empresas. São grupos e parceiros que cada vez mais vão sendo agregados (figura 1).

Uma terceira função que pode aparecer em algumas instituições é o Broker. As atividades de Broker é basicamente quebrar barreiras de contatos. Na situação em que duas instituições têm potenciais que podem se somar, o Broker faz os laços se ligarem. Seria o mesmo papel daquele colega que apresenta amiga, porque acha que ela tem muito a ver com você.

O poder de marketing de uma organização think tank e, ocasionalmente, de Broker é fantástico. Pois esse processo de socialização não apenas divulga o nome da organização, como mostra a competência em gerar informações e de estabelecer redes. E, o tempo perdido na elaboração de relatórios ou na criação de redes volta-se na forma de clientes para o lado consultoria da organização. É o compartilhamento da informação gerando lucro.

Vale lembrar que quanto mais trabalhos de consultoria existirem mais informações para a produção de relatórios serão geradas e mais redes de contanto serão criadas. As organizações hibridas estabelecem um modelo que se retro-alimenta (Figura 2).

Pela experiência dessas organizações, o resultado não é imediato. Muitas vezes as funções de think tank ou Broker podem demorar alguns meses para trazer seus benefícios. Mas se bem feitas, ele é certo. Segundo Sam Lakha, o atraso na resposta, por exemplo, de um relatório é saudável: “preferimos que as organizações, ou pessoas físicas, que leram o relatório interpretem e repensem toda a informação contida; esse processo, que pode levar de seis meses a um ano, permite que após decidirem buscar a consultoria na nossa organização, estejam mais concretos dos seus objetivos”.

No Brasil esse movimento ainda é pequeno e quase inexistente. Empresas na área de consultoria em sustentabilidade ainda prezam pelo modelo simples. A falta dessa oferta de serviço faz com que empresas brasileiras atrás de informações e tendências em sustentabilidade busquem esse tipo de competência no exterior. Cabe o exemplo do relatório “Rumo à credibilidade: Uma pesquisa de relatórios de sustentabilidade no Brasil”, em que, embora tenha participação da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), as outras duas organizações autoras são internacionais.

No entanto, apesar das empresas brasileiras não trabalharem nesse modelo hibrido, já possuem a informação e competência para tal. Existem trabalhos de consultorias, na área de sustentabilidade feitos por empresas Brasileiras, que são referências internacionais, pode-se citar o trabalho feito no Banco Real. Mas o que faltaria para elas então? A resposta pode ser encontrada na frase do escritor, jornalista e dramaturgo irlandês George-Bernard Shaw: Existem dois tipos de pessoas na vida: pessoas que vêem o mundo como ele é e se perguntam por quê? E pessoas que imaginam o mundo como poderia ser e se questionam: Porque não? Agora cabe a cada um escolher.

texto originalmente publicado na revista Ideia Sustentável edição de Junho

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