Resumo de tese de Doutorado

Título: Assessing the Viability of Lowland Tapir Populations in a Fragmented Landscape

Autora: Patrícia Medici
Orientador: Dr. Richard Bodmer
University of Kent - 2010

Esta tese teve como meta principal avaliar os fatores ecológicos determinantes para a persistência e viabilidade de populações animais em paisagens severamente fragmentadas no longo prazo. A Anta Brasileira, Tapirus terrestris, e a Floresta Atlântica do Interior da região do Pontal do Paranapanema, São Paulo, Brasil, foram utilizadas como modelos ilustrativos para esta avaliação. Duas abordagens foram utilizadas, a primeira delas empírica e a segunda baseada em modelagem. A abordagem empírica avaliou aspectos de ecologia espacial, interações intra-específicas e interações espaciais e temporais entre as antas e a paisagem, bem como estimativas de abundância no Parque Estadual Morro do Diabo (370 km²) e sete outros fragmentos de floresta (4-18 km²) onde a presença da espécie havia sido previamente confirmada. A modelagem consistiu de uma Análise de Viabilidade Populacional (AVP) realizada através do uso do software VORTEX. Parâmetros de ecologia espacial, interações intra-específicas e interações entre antas e paisagem foram estimados através de rádio-telemetria. Tamanhos populacionais foram derivados a partir de densidades obtidas através de rádio-telemetria, censo noturno por transectos lineares, e uma técnica de identificação de pegadas (FIT). As antas no Morro do Diabo apresentaram áreas de uso (home range) bastante grandes (4,7 km²) quando comparadas a outras áreas, em particular em florestas contínuas. As áreas de uso apresentaram estruturas internas complexas, incluindo múltiplos centros de alta intensidade de uso (core areas), os quais representaram proporções bastante pequenas da área de uso total (50% core, 17% da área de uso; 25% core, 6% da área de uso). Pouca variação sazonal foi encontrada tanto em tamanho quanto em localização de áreas de uso e áreas core. Todos esses padrões foram consistentes para ambos os sexos e diferentes classes de idade. Resultados de telemetria mostraram ser necessários um mínimo de 20 meses de coleta de dados e aproximadamente 300 localizações para determinar a área de uso de antas adultas. As antas tiveram alta sobreposição de área de uso (30%), bem como de áreas core (20%). Territorialidade não foi observada. As antas incorporaram em suas áreas de uso e áreas core porções de todos os tipos de habitat disponíveis, mas selecionaram significativamente florestas ripárias, onde pareceram executar grande parte de suas atividades, particularmente forrageamento. As antas evitaram áreas de agricultura e pastagem, bem como florestas secundárias. A população de antas no Morro do Diabo foi estimada em 130 indivíduos e os sete outros fragmentos de floresta, conjuntamente, devem conter cerca de 22 outros indivíduos. A taxa de crescimento populacional da espécie é baixa e, conseqüentemente, as antas são bastante susceptíveis a ameaças tais como atropelamentos, doenças infecciosas e fogo, particularmente em fragmentos de menor tamanho. Os resultados do modelo de AVP projetaram que a população de antas no Morro do Diabo tem zero probabilidade de extinção e deve persistir ao longo dos próximos 100 anos. Entretanto, a população não é suficientemente grande para manter 95% de diversidade genética no longo prazo. Seria necessária uma População Mínima Viável de 200 antas para garantir a viabilidade no longo prazo. O modelo demonstrou que na ausência de dispersão de indivíduos do Morro do Diabo, as populações de antas nos fragmentos menores serão extintas ao longo dos próximos 100 anos. Todavia, este estudo mostrou que as antas apresentaram relativa facilidade em se deslocar pela matriz da paisagem entre os fragmentos, indicando certo nível de conectividade funcional. Isso evidenciou um cenário metapopulacional, o qual provou ser determinante para a persistência das antas na Floresta Atlântica do Interior. De maneira geral, a persistência e viabilidade de populações animais em paisagens severamente fragmentadas parecem depender da manutenção e proteção de complexas networks de habitat. Tais networks devem incluir alguns fragmentos de maior tamanho que possam dar suporte a populações maiores e funcionar como fontes de dispersores para pequenas populações em habitats sumidouro. Os fragmentos de floresta compondo essas networks devem incorporar os tipos de habitat requeridos onde os animais possam encontrar os recursos necessários para sua sobrevivência e persistência. Mais importante, deve haver um nível apropriado de conectividade de paisagem, seja ela estrutural ou funcional, de forma a facilitar fluxos biológicos entre os fragmentos e promover a manutenção de uma metapopulação saudável tanto em termos demográficos quanto genéticos.



A tese pode ser  baixada na íntegra aqui.