segunda-feira, 21 de março de 2011

Interdependência ou Morte


Interdependência ou Morte*!


Vivemos uma era tecnológica! Basta andar pelas ruas que vemos pessoas com seus fones de ouvido conectados aos seus MP3 Players, falando e acessando a internet pelos seus celulares em ônibus e metrôs, digitando freneticamente seus lap-tops em cafés e restaurantes, modelos de computadores e carros ficando obsoletos em menos de um ano de lançamento no mercado...



Paralelo a isso, estamos vivenciando também uma crise ambiental! Há mais de 15 anos dois pesquisadores canadenses desenvolveram um conceito bastante conhecido e difundido nas ciências ambientais chamado 'Pegada Ecológica' (Ecological Footprint), que consiste em uma métrica para capturar a demanda humana sobre a natureza.



Ou seja, calcula-se a quantidade de terra e água produtivas necessárias para fornecerem os recursos que um indivíduo, população ou atividade consume, levando em conta a resiliência da Terra, que nada mais é do que sua capacidade de absorver os resíduos e dejetos que essas pessoas geram. Os cálculos da pegada ecológica global em 2009 mostram que extraímos da Terra e descartamos nela cerca de 50% acima da sua capacidade de suporte! As consequências desse descompasso já são sentidas por nós, tais como mudanças climáticas, perda de biodiversidade, escassez de comida e água, erosão do solo, destruição dos recursos marinhos, dentre outros.




Talvez o mais alarmante de tudo isso recaia no fato de que todo esse estrago não é causado por padrões de consumo equivalentes em todo o planeta. Muito pelo contrário, metade da pegada ecológica mundial concentra-se em apenas 10 países, sendo os Estados Unidos e China consumidores de 23% e 21%, respectivamente, da 'biocapacidade' da Terra. Ampliando ainda mais a análise sobre nossa era, além de alta tecnologia e crise ambiental, ela é caracterizada pelas desigualdades sociais e concentração econômico-financeira. De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU de 2010, o país mais rico atualmente é três vezes mais rico que o país mais rico em 1970 e o país mais pobre é cerca de 25% mais pobre que o país mais pobre também 40 anos atrás. Ainda citando dados do relatório de disparidades socioeconômicas, apesar da China ser um país de rápido e alto crescimento econômico, seu rendimento per capta corresponde apenas a um quinto da média dos países desenvolvidos.




Mas nem tudo está perdido! Frente a esse cenário não podemos subestimar o poder da mobilização, seja ela individual ou coletiva (de preferência uma combinação entre as duas), ou muito menos deixar de lado o potencial da tecnologia para despertar tal mobilização! É justamente esse o propósito do projeto** 'Interdependência ou Morte': sensibilizar e incentivar, através de ferramentas de comunicação virtuais, a importância de ações conscientes incorporadas por nós em nosso dia a dia.




E… por que Interdependência? Como pronunciou Ricardo Guimarães no TED×Rio, trata-se não apenas de um conceito, mas de uma condição anterior e externa a nós que garante a sustentabilidade do nosso sistema. Façamos um exercício da importância da interdependência na natureza (ambiente conceitual no qual o homem se insere e faz parte, mesmo que por vezes nos esquecemos): suponhamos que alguma alteração climática, atmosférica ou na vegetação extingue ou reduz a população de certa espécie de abelhas, que por sua vez são as únicas polinizadoras de certa espécie de planta, que por sua vez fornecem frutos que são a única fonte de alimento de uma dada espécie de roedor, que pode ser a principal presa de uma ave de rapina, que, com a escassez da sua principal fonte de alimentação, sofre redução em sua população... E por aí vai...




Migremos agora para o mundo das corporações e empresas. Dentro do contexto em que vivemos apresentado nos parágrafos acima, conceitos como sustentabilidade e responsabilidade social são cada vez mais presentes e cruciais no meio empresarial. Embora muitos ainda confundam tais conceitos com práticas isoladas de filantropia, uma das principais características que os diferem dessas práticas é justamente a interdependência! Ou seja, para que uma empresa possa exercer a responsabilidade social, é necessário que ela incorpore em sua governança organizacional a interdependência entre todos os temas centrais relevantes frente às particularidades da empresa. Portanto, temas como direitos humanos, práticas de trabalho e meio ambiente, por exemplo, devem ser considerados de forma holística e interdependente, ao invés de concentrados isoladamente somente em uma única questão da instituição.



Tendo tudo isso em mente, podemos facilmente compreender agora que cada uma de nossas ações e decisões afeta não apenas pessoas e coisas diretamente relacionadas à situação em que tal ação ou decisão foi realizada, mas também influenciam positiva ou negativamente a uma série de fatores interligados indiretamente. É por isso que levantamos a bandeira da interdependência, a fim de provocar a reflexão nas pessoas de que iniciativas que vão desde dar passagem a um pedestre na rua a separar e reciclar seu lixo, não são desconectadas e muito menos ações isoladas se incorporarmos a interdependência em nossas vidas. Afinal, somos todos filhos da natureza e sujeitos a sofrer as consequências das reações em cadeia provocadas por nossas próprias intervenções descomedidas no meio.




*Título inspirado na apresentação de Ricardo Guimarães, especialista em branding, no TED×Rio em 2010.


** Mais detalhes sobre o projeto serão divulgados no Xilema em breve



Referências:


Ecological Footprint Atlas 2009. Global Footprint Network, Research and Standards Department; 24 November, 2009.


Relatório de Desenvolvimento Humano 2010- A Verdadeira Riqueza das Nações: Vias para o Desenvolvimento Humano. Publicado para o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

2 comentários:

  1. Oi Ana.
    A identificação de uma situação crítica, tema postado, é extremamente importante. O passo seguinte seria a conscientização e posteriormente, as ações. Quando você diz: “é necessário que ela incorpore em sua governança organizacional a interdependência entre todos os temas centrais relevantes frente às particularidades da empresa”, acho que vale um exercício de como isso poderia ser realizado ao se considerar os itens: legislação/fiscalização/penalidades/incentivos. Isso ajudaria na identificação de qual parte do processo carece de esforços.

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  2. Olá Alexandre!
    Super relevante essa questão levantada que vc levantou. Acho que penalidades (políticas de comando e controle) ainda é uma realidade distante no meio empresarial brasileiro sobre práticas de sustentabilidade e responsabilidade social empresarial (RSE). Mas muitas organizações já deram importantes passos através da adoção de indicadores de RSE nas auto avaliações e compartilhando com o público interessado através de relatórios de sustentabilidade. Inclusive foi lançada recentemente a ISO 26000 sobre normas de RS, fornecendo não requisitos certificáveis, mas sim diretrizes para a aplicação do tema em todas as dimensões e esferas de atuação de uma organização, como direitos humanos, práticas trabalhistas, meio ambiente, consumidor, comunidade, etc.

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