quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Singela Opinião II (por Alexandra Alcantara)

Um pensamento há tempos, me soa muito claro: de que quando determinados fatos ou notícias chegam até nós - gente comum - grandes decisões já foram tomadas sem o nosso conhecimento (quiçá: consentimento) e estão sendo executadas.

Quando ouvimos falar em sustentabilidade, nos vem a impressão de que o assunto é uma novidade, na qual devemos nos engajar e da qual devemos nos aprofundar. Sim, isto é necessário. Entretanto, a sustentabilidade não passa de uma situação que, se bem analisada, já é vivida em certa realidade sem que a gente se dê conta disso.

Explicação : O consultor empresarial da área de logística reversa, prof. Paulo Roberto Leite, demonstra dados em seu último livro, de que latas de alumínio, no Brasil e no mundo, têm um ciclo reverso menor do que 30 dias. Ou seja, este é o período entre a fabricação das latas e o seu retorno ao ciclo produtivo, indicando a eficiência de alguns setores nos canais de distribuição reversos (CDRs) dos bens de pós-consumo. Este fato também ocorre com as embalagens de agrotóxicos e com os metais (cobre e aço); todos reciclados em percentuais próximos a 100%.

Baterias de veículos também constituem um forte exemplo industrial desta ação. Tanto a liga de chumbo, que é o princípio de funcionamento químico do produto, quanto a carcaça de plástico polipropileno, são elementos rapidamente reintegrados ao ciclo produtivo de novas baterias, representando a revalorização da matéria–prima e promovendo a mitigação de novas demandas por recursos naturais e energéticos ¹.

Carros saídos de fábricas nos Estados Unidos têm 85% (em peso) de seus materiais constituintes reciclados ². E isto é uma realidade desde o ano de 1990.

Dos restos de maquinários em geral, é extraído o material ferroso que se transforma em chapas, vigas, vergalhões de ferro, e vice-versa. Das embalagens de produtos de limpeza, brinquedos, computadores e outros utensílios domésticos, é extraído o plástico que se transforma em sacos de lixo, peças mecânicas, elétricas e vice-versa. Formando ciclos de produção reversas até o seu limite (LEITE, 2009).

No Japão a coleta seletiva de lixo conta com 44 categorias distintas de separação e; biodigestores, subsidiados por algumas prefeituras permitem a confecção de energia e fertilizantes domésticos pelas famílias, que são fiscalizadas constantemente pelos agentes comunitários de tais localidades para que toda a vizinhança cumpra com a iniciativa ³.

Subsistemas de reuso, remanufatura e reciclagem de matérias-primas, são processos iniciados há algumas décadas e demonstram evolução em vários setores industriais (CALDERONI,1998).

As revistas publicadas pela Editora Abril, como mais um exemplo, possuem porcentagens de papel, tinta e solventes reciclados, além de um intenso trabalho de P+L (produção mais limpa) em todo o seu parque gráfico. Nestas ações, resíduos industriais e de escritório viram combustíveis para a alimentação das caldeiras e a água utilizada no processo produtivo é recuperada dos solventes e retorna ao processo. Essas tentativas vividas há algum tempo pela empresa têm um processo de melhoria contínua, que se acentua mediante à maturidade de seus colaboradores. O esforço estende-se ainda às ações para a comunidade como a construção e manutenção da Praça Vitor Civita - empreendimento cultural e ambiental que revitalizou o entorno de um antigo incinerador na cidade de São Paulo.

Uma boa conclusão seria a de que o mundo sustentável com o qual sonhamos, já pode existir em localidades e momentos simultâneos do nosso planeta. Daria para parafrasear aquele compositor mineiro: “ a sustentabilidade mora ao lado, e quem não é tolo pode ver”.

Uma mudança de comportamento prevê acreditar nas boas intenções das pessoas, mesmo que esta pessoa seja jurídica.

É certo que para muitos ainda é difícil alcançar a compreensão de que sustentabilidade não significa retroceder, mas sim rever as atitudes - buscar um benefício maior e mais comum, para gente comum (como dito no início deste texto). Mas, a melhor hipótese é a de que esse movimento é realidade e já envolve muita gente (os exemplos aqui citados representam uma parcela ínfima dos tantos outros latentes de serem divulgados).

Haveremos de conviver com todas as possibilidades que a era moderna nos propiciou.

Imaginem a situação: para fazer uma limonada, poderemos colher os limões numa árvore semeada por pássaros dispersores na fazenda de um amigo em uma tranqüila tarde de domingo regada de boas conversas; e\ou comprá-lo numa segunda-feira, espremido e engarrafado em uma embalagem plástica, num momento de intensa pressa, sem olhar ao lado - com medo de encontrar algum conhecido que poderia nos atrasar com uma conversa - no hipermercado da nossa cidade.

Tudo será possível a partir de agora, e o futuro não deve assustar. Ele apenas nos desafia. O mundo é realmente redondo (como já bem sabia Galileu) e isso é reconfortante.

Um brinde à sustentabilidade !

Referências

¹ disponível em www.cempre.org.br, acessado em 09\11\2010.

² disponível em www.recycle-steel.org, acessado em 08\11\2010.

³ disponível em www.infoclipping.com.br, acessado em 27\05\2005.

CALDERONI, S. Os bilhões perdidos no lixo. São Paulo: Humanitas,1998.

LEITE, P.R. Logística Reversa: meio ambiente e competitividade. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009.

Alexandra Alcantara (um avatar de James Cameron) é mestranda Escas 2010.

Um comentário:

  1. Alexandra! Adorei o texto, especialmente o último parágrafo! Demais...
    Essas iniciativas são reconfortantes sim e é bom saber desses exemplos para que nos sirva de incentivo. Aqui no prédio onde moro em São Paulo, por exemplo, onde coleta seletiva do lixo seria uma coisa muito mais simples do que estabelecer políticas de logística reversa em alguma empresa, não rola.

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